quinta-feira, 9 de agosto de 2012

Câmara cria comissão para discutir crise na Segurança



Cúpulas das polícias Civil, Militar e da GM serão chamadas pelos vereadores

08/08/2012 - 23h47 . Atualizada em 09/08/2012 - 06h00
Luciana Félix  
A Câmara de Vereadores aprovou ontem a criação de uma Comissão Especial de Estudos (CEE) para discutir e cobrar ações de enfrentamento à crise vivida na área de segurança pública em Campinas. Os parlamentares irão chamar autoridades policiais da cidade (polícias Militar e Civil) e representantes da Guarda Municipal (GM) para que apresentem o planejamento de cada corporação no combate ao aumento dos índices de criminalidade.
Recentemente, o Correio publicou uma série de reportagens que mostrou o agravamento do quadro da segurança pública em Campinas, principalmente nos casos de crimes contra o patrimônio (roubo, furto e roubo e furto de veículos) e apontou a migração das ocorrências entre as regiões do município. No último domingo, a situação ganhou novo ingrediente: em artigo publicado no Correio, o juiz corregedor da Polícia Civil, Nelson Augusto Bernardes, classificou a estrutura da segurança, principalmente a da Polícia Civil, como “amorfa e praticamente parada”. No texto, o magistrado faz citação à “crise sem precedentes” e à falta de estrutura da corporação.

Raio X 
A comissão irá fazer um raio X sobre a atual situação estrutural e a defasagem de funcionários, principalmente no quadro da Polícia Civil, que em cinco anos contratou 45 policiais civis para trabalhar nas cidades da região da Delegacia Seccional de Campinas (Indaiatuba, Paulínia, Vinhedo e Valinhos). No mesmo período, 90 policiais deixaram seus cargos na instituição.
Os parlamentares querem também fazer um mapeamento do crime na cidade. A intenção é descobrir quais são as regiões que concentram os delitos e quais os tipos de crimes. A CEE deve durar três meses e, no final, será feito um relatório a ser encaminhado ao governo do Estado pedindo providências urgentes para o município.
“A ideia é chamar autoridades relacionadas ao tema, como delegados da cúpula da Polícia Civil, comandantes da Polícia Militar e da Guarda Municipal para, juntos, analisarmos a atual situação e promover ações que funcionem. Precisamos de um levantamento da própria polícia para saber o que é preciso fazer”, afirmou o vereador Arly de Lara Romêo (PSB), idealizador e presidente da comissão de estudos.
Além dele, farão parte do grupo os vereadores José Carlos Silva (PMDB), que será o relator, Gilberto Cardoso (PSDB), Rafael Zimbaldi (PP) e Leonice da Paz (PDT). A ideia é iniciar as ações da comissão na próxima semana com uma primeira reunião, quando serão definidas as autoridades policiais a serem chamadas.
O objetivo de discutir a crise na segurança é evitar que o município volte a registrar números de criminalidade como nos anos 2000 e 2001, quando a cidade enfrentou um dos períodos mais violentos de sua história recente, com 542 homicídios registrados em um único ano (2001).
“A CEE terá a intenção de buscar a redução desses números e fazer com que o Município e as policias criem uma interação neste combate. Não podemos deixar esses números crescerem. Precisamos saber quais são os nossos recursos e o necessário para a nossa cidade. A falta de estrutura apontada pelo juiz no artigo é absurda e não podemos deixar dessa forma”, afirmou o presidente.
“É fundamental a necessidade de combater a violência na cidade e a obrigação da Câmara é tomar essa providência. Temos muitos crimes de roubos, furtos e sequestros-relâmpagos, além de explosões em caixas eletrônicos. Precisamos de ação”, afirmou o vereador Sebastião dos Santos, (PMDB) que votou apoiando a iniciativa.
“A Polícia Civil em Campinas está falida. O caos da insegurança está voltado à cidade. É preciso que representantes sentem e formulem ações para evitar que isso continue”, afirmou Antonio Flôres (PSB). A Polícia Civil também foi criticada pelo vereador Francisco Sellin (PMDB). “Quando tem concurso, a região quase não recebe policiais. A cidade cresceu muito e está com número de funcionários de 20 anos atrás.”

Polícias 
A reportagem procurou as autoridades das policias Civil e Militar de Campinas para comentar o assunto. O delegado seccional da cidade, José Carneiro Campos Rolim Neto, afirmou que só irá ter uma posição quando for chamado pela CEE da Câmara. O Comando de Policiamento do Interior 2 (CPI-2), que representa a PM, não respondeu a nenhuma das solicitações sobre o tema.

Artigo de juiz estarrece até policiais da Grande SP

O artigo do juiz corregedor da Polícia Civil, Nelson Augusto Bernardes, publicado no último final de semana no Correio, acabou repercutindo não só entre policiais e a população de Campinas. Policiais de cidades que pertencem à Região Metropolitana de São Paulo receberam o artigo, por meio de rede de e-mails, esta semana, e se disseram “estarrecidos” com a realidade de Campinas.
“Não imaginava que a polícia em Campinas estava sofrendo esse tanto. Sou policial civil e penso nos problemas enfrentados pelos colegas. Somos uma categoria só. Nunca imaginei que Campinas, por ser a maior cidade do Interior, esteja enfrentando tantos problemas”, afirmou um investigador, que pediu para ficar no anonimato.
“As cidades que são próximas à Capital não sofrem com isso. Todas têm estrutura e gente para trabalhar. Aqui, pelo jeito, é completamente diferente e a polícia funciona”, disse um escrivão. “Quando recebi o artigo por e-mail, até liguei para confirmar se era verdade. São tantos os absurdos denunciados pelo juiz que pensei que fossem esses e-mails mentirosos e de apelação. Fiquei chocado com a veracidade da situação”, afirmou.
O artigo do corregedor foi escrito após ele fazer uma correição nos 13 distritos da cidades e nas oito delegacias especializadas. “Espero contribuir para que algo seja feito. Essa situação não pode continuar em Campinas”, afirmou Bernardes. O juiz recebeu 40 e-mails após a publicação do texto. “Muitos agradeceram minha posição de reconhecer as dificuldades que a polícia enfrenta hoje em Campinas”, disse.
A cada hora um veículo é levado por bandidos nas ruas de Campinas. A média mensal de casos de roubos e furtos nos cinco primeiros meses deste ano é de 840 casos — 4.202 de janeiro a maio. Maior índice desde 2006, quando o município registrou média anual de 885 casos mensais. Já roubos, em média, há um caso registrado por hora na cidade. Ao todo, são 24 ocorrências por dia, ou 746 por mês.
Ao final de um ano, 9 mil pessoas são vítimas de assalto com uso de violência na cidade. Modalidade de crime mais comum em Campinas — os furtos (quando o pertence é subtraído sem que a vítima perceba) — registram duas ocorrências a cada hora em Campinas, média mensal de 1.505 até maio.

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